sexta-feira, 24 de março de 2017

Por terras do Tio Sam - Natureza em Grande

Viajar aos Estados Unidos não era uma das minhas prioridades talvez por não gostar muito do estilo de vida que me chegava mais ou menos estereotipado, talvez pela minha relutância em relação à supremacia duma potência com papel sempre muito activo nos destinos do mundo. País de grandes contradições mas que, no entanto, sempre conseguiu criar inovação nos vários domínios interdisciplinares que vieram a contribuir, largamente, para o desenvolvimento humano. É neste  país que se encontra uma das maravilhas da natureza que sempre despertou a minha curiosidade: o Grand Canyon. Este grandioso desfiladeiro, que emoldura o Rio Colorado com margens rochosas, íngremes, esculpidas ao sabor de ventos e chuvas durante milénios, confirma-nos a ideia de que tudo, nos Estados Unidos, é em grande. Aqui as dimensões ultrapassam largamente as do horizonte que o meu olhar estava habituado a alcançar. Até entre os turistas internos que por ali andavam, se destacavam os XXXL, não só pela obesidade extrema, mas porque se viam com muita frequência. Só pode ser consequência da comida, enjoativa, sempre igual, batatas fritas e hambúrgueres com molho de tomate, maionese e pouco mais, em qualquer lugar que estava mais à mão do viajante turista, mas que o americano come com todo o prazer.  A comida e o cheiro gorduroso ao redor de muitos restaurantes, parecia perseguir-me e foi o único aspecto negativo desta viagem.
Quem viaja normalmente tem um plano que se prende, sobretudo, com o número de dias disponíveis a rentabilizar da melhor maneira possível. O meu incluía um percurso pelo Arizona e Califórnia, distribuído por quinze dias, pelo que escolher a melhor hora para visitar o Grand Canyon que é, sem dúvida, ao entardecer num dia de sol, não foi possível. A opção de fazer um voo de helicóptero que os há disponíveis por várias empresas, foi bastante compensadora. Permitiu-nos observar a baixa altitude a monumentalidade duma extensão de terras rasgadas compulsivamente pelo rio que em conluio com as forças da natureza criaram este espectáculo agora ao alcance dos meus olhos. Sobrevoando, tornou-se quase um jogo de esconde-esconde, ao som de um vira do Minho, conseguir avistar o Colorado que lá ia serpenteando as falésias conforme podia. O vira do Minho foi gentileza do piloto por sermos portugueses. Valeu a intenção porque a música está fora das minhas preferências musicais. Pelo contrário, o holandês que fazia o voo connosco, pareceu-me bastante agradado. Tocou-me nas costas para eu olhar e ergueu os braços ao jeito minhoto de quem dança. Já em terra, explicou entusiasticamente que tinha estado no norte de  Portugal no ano anterior.
Ao longo do Grand Canyon existe a possibilidade de apanhar um shuttle bus com paragens em vários pontos estratégicos onde se pode sair e voltar a entrar a qualquer hora, uma vez que este transporte está incluído no preço de ingresso no parque. Assim sendo, dispusemos do tempo que nos interessou para ficar ali, fascinados, olhando do cimo de penhascos de várias tonalidades ocre que descem até ao rio, ora completamente íngremes, ora em socalcos caprichosamente esculpidos, configurando uma paisagem indescritível e invulgar. Este grande desfiladeiro de mais de quatrocentos quilómetros de comprimento por trinta de largura aproximadamente, oferece-nos várias formas de ser explorado e múltiplos pontos de grande beleza, mas visitá-los todos carecia de muito mais tempo na região. A poucos quilómetros do Parque e da cidade de Page, no Arizona,  o Horseshoe Bend, foi uma das paisagens que levou ao rubro o meu deslumbramento. Aqui o rio Colorado cavou os penhascos numa curiosa forma de ferradura. Alguns turistas quiseram ver, da berma do precipício, o rio que lá bem no fundo corria, mas os menos corajosos, nos quais eu me incluí, só rastejando numa pose caricata, conseguiram tirar a tão desejada foto.
O Cameron Trading Post foi o alojamento feito à medida para deleite de quem já andava maravilhado com toda a região do Grand Canyon. Hotel romântico, nas margens do Little Colorado River, afluente do Colorado, ocupa uma antiga estalagem e posto de trocas comerciais com os índios Navajo, entretanto recuperada. Todo o staff é composto pelos descendentes deste povo, solícitos, eficientes, mas de semblantes fechados.  Alertaram-nos para o tradicional e delicioso pão quente servido com mel, uma espécie de panqueca insuflada, simplesmente divinal que degustámos ao pequeno almoço. A decoração interior é de inspiração Navajo, claro, onde lindíssimos tapetes de parede e bela cerâmica aconchegam o ambiente e o transformam num espaço bastante acolhedor. Assim chegou a hora de partir ainda com muita estrada pela frente.



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