domingo, 8 de outubro de 2017


O Charme Medieval de Lübeck


     Emoldurada pelo rioTrave ao norte da Alemanha e próximo da fronteira com a Dinamarca, a adorável cidade de Lübeck pode chamar, a si, o estatuto de cidade ilha, perto do mar, no entanto resguardada da azáfama do seu porto marítimo que fica um pouco mais distante.
Serenidade parece ter sido a opção desta cidade depois de um passado glorioso enquanto foi a capital da famosa Liga Hanseática, uma aliança económica entre várias cidades do norte europeu que controlava o comércio nos mares do Norte e Báltico, durante a Idade Média, ou de um passado de tragédia com a destruição da cidade nos finais da Segunda Guerra Mundial. Bombardeada pela RAF, ficou arrasada com os numerosos incêndios subsequentes, alimentados pela madeira de que eram constituídas, essencialmente, as construções de uma cidade que teve a sua origem no Séc. XII. Restaram as estruturas de tijolo e belas  fachadas de muitos edifícios entretanto tão bem recuperados. Lübeck é, actualmente, uma cidade de grande interesse cultural. Com turismo quanto baste, pelo menos na primeira semana de Setembro em que a visitei, apresenta-se tranquila, fácil de percorrer a pé pelo turista, sem necessidade de recorrer a qualquer transporte público. A vida dos residentes desenrola-se com a calma própria das cidades de média dimensão em paralelo com um discreto acolhimento aos visitantes. Lübeck possui um fabuloso património de arquitectura gótica de tijolo que lhe granjeou a eleição de Património da Humanidade pela UNESCO. De rua em rua, sempre presenteada com lindas fachadas de causar admiração, os pináculos verdes em contraste com a cor do tijolo das torres da Catedral e da formosa e imperdível Igreja de Santa Maria, vão-me servindo de guia neste itinerário de charme que a cidade oferece. Mas o pasmo não fica por aqui! A estranha arquitectura do edifício da câmara municipal, a Rathaus, mais uma vez me fez estar de cabeça levantada, ou o fantástico Heiligen Geist Hospital, um hospital medieval onde foi possível visitar apenas o bonito átrio, embora o edifício, por si só, seja mais que suficiente para ser incluído na lista dos vários ex-líbris a guardar  numa bela fotografia.
    Neste deambular pelas ruas mais estreitas de Lübeck onde ocorrem, por vezes, magníficas concentrações de edifícios em tijolo, é tão fácil imaginar o rebuliço mercantil do tempo da Liga Hanseática: As pipas da cerveja artesanal dos monges Beneditinos de Weihenstephan a caminho do porto de onde seguiam para outros destinos; as mercadorias várias que entravam e saíam da cidade como os tecidos de lã, as sedas vindas do oriente, os cereais, o sal, tão bem representadas no Museu da Liga Hanseática; O movimento dos almocreves pelas admiráveis portas da cidade, a Holstentor e a Burgtor de arquitectura muito interessante. Imaginamos, também, a Lübeck do Séc XIX como o cenário perfeito para os Buddenbrooks, personagens do romance com o mesmo nome de Thomas Mann, um dos filhos ilustres desta cidade charmosa e romântica.
O esplendor mercantil de Lübeck foi-se dissipando no tempo. Hoje, ela está voltada para um turismo cultural gerido com prudência e tem os famosos e deliciosos doces de massapão a disputarem um lugar cimeiro no seu actual comércio.

Manuela Santos




segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Gosto de Copenhaga


Há cidades que nos causam espanto e admiração logo à primeira vista, seja pela imponência arquitectónica, pela ousadia ou pelo seu carisma. Copenhaga talvez se enquadre nesta última situação. É uma cidade harmoniosa que tem sabido conjugar arquitectura antiga com a contemporânea. Cada uma no seu espaço na cidade, sem desequilíbrios estéticos. Preserva tudo o que é tradicional e investe também no que existe de mais moderno.  E tem como companhia a água dos canais onde a cidade se espelha com alegria nos dias de sol menos abundantes que a sul da Europa e aproveitados ao máximo pelos dinamarqueses. Se o sol é preguiçoso por aquelas paragens lá estão as esplanadas equipadas com aquecedores e mantinhas nas costas das cadeiras. Copenhaga é amigável. Não nos sufoca. Os edifícios atingem mais ou menos os seis andares com excepção das zonas mais modernas onde sobem um pouco mais. Das avenidas mais largas às mais pequenas o pequeno comércio prolifera, animando bastante a capital da Dinamarca. Existem lojas de todo o tipo incluindo as de confecção de roupa por medida, modestas ou mais luxuosas, o que me surpreendeu. O comércio de bicicletas é uma constante ou não fosse este país o paraíso da bicicleta. É ver uma grande parte da população pedalando com destreza de fazer inveja. São autênticos enxames que deslizam pelas vias próprias, sempre no sentido do tráfego. Transportam as crianças em triciclos com a mesma destreza e os mais velhos ainda pedalam com regularidade. A bicicleta é, realmente, um meio de transporte privilegiado e, aliado à excelente organização dos transportes públicos, fazem de Copenhaga uma metrópole pouco ruidosa e pouco poluída. A cidade da filosofia de vida hygge, é acolhedora, solidária, multicultural, respeita a diferença, bem visível no bairro Christiania onde vivem cidadãos que preferem um modo de vida alternativo. Temos a sensação de não existir qualquer tipo de ostentação nesta cidade escandinava e provavelmente por isso, as bonitas igrejas, normalmente em arquitectura de tijolo, são bem simples no seu interior. Ou é o contrário? Será a prática religiosa que influencia a vida social? Vale a pena visitar Sankt Petri Kirke, uma pequena igreja medieval, com as suas invulgares capelas sepulcrais que, mediante solicitação, são mostradas aos visitantes.


Copenhaga parece ser gerida com pragmatismo o que não invalida o investimento na cultura e os próprios dinamarqueses gostam de manter e preservar as suas memórias. Quem sair para fora da cidade, viajando um pouco pelo país, pode visitar os numerosos centros de recriação histórica com a participação voluntária de várias famílias ou outras pessoas que levam com rigor histórico toda a encenação, sobretudo da Idade Média. Construíram minúsculas aldeias no meio do campo, onde mulheres costuram manualmente as próprias roupas medievais que usam, os homens exercem ofícios de carpinteiro, de ferreiro, a arte da guerra e todos ali trabalham numa perspectiva cénica e didáctica para o visitante. Voltando a Copenhaga, onde são numerosos os museus, o meu favoritismo vai, sem dúvida, para o imperdível Nationalmuseet. Nele podemos viajar através dos tempos da pré-história até ao Séc. XX. Os milhares de objectos do quotidiano de rara beleza e singularidade ocupam-nos bem umas três horas em encantamento.


Mas a cidade viking também tem os seus ex-líbris com destaque para a Pequena Sereia que é mesmo pequena, ou o Amalienborg, palácio residencial da família real e, numa das praças mais bonitas, o Copenhagen City Hall, construído em tijolo com detalhes dourados na sua fachada. Imperdível é, também, o Castelo Rosenborg, uma pequena jóia do Séc. XVII. Caminhando que é a melhor forma de viver a cidade, ela sempre nos surpreende, algures, com belos edifícios em tijolo, antigos ou os mais modernos que continuaram esta tradição. É bom vaguear pelas ruas planas, caminhar sem atropelos e, se não se quiser gastar dinheiro num passeio de barco pelo canal, destinado a turistas, pode-se sempre usar o passe dos transportes públicos e embarcar num bus-barco. De porto em porto fomos admirando a ainda mais bela Copenhaga, iluminada pelo sol, descobrindo pontos de interesse tal como o diamante negro, nome pelo qual é conhecida a Biblioteca Nacional, devido à sua arquitectura ultra moderna. Gosto de Copenhaga, mas é uma cidade cara para nós portugueses.

Manuela Santos






sábado, 17 de junho de 2017


Marraquexe  Aqui  Tão Perto


 Em pouco mais de hora e meia aterrámos na bela cidade de Marraquexe. Longe do norte marroquino mais mediterrânico, a cidade rosa e ocre onde a vida parece acontecer de forma caótica, revelou-se surpreendente.
Ruelas e becos atravancados de lojas com tudo o que se possa imaginar estar à venda, com tudo o que o ser humano precisa e não precisa, com souvenirs made in Marrocos ou made in China? Viemos a saber, mais tarde, dito por um funcionário do Centro de Artesanato de Ouarzazate que, nos Souk de Marrocos, muitos dos objectos considerados tradicionais, são fabricados na China. Numa aventura pelo Souk, quase espremidos pelas dezenas de motorizadas que nos serpenteavam, pelos transeuntes locais que caminhavam sem vacilar, pelo convite ao regateio numa compra que não nos apetecia fazer, eram muitos os motivos que captavam a nossa atenção. Mas ela foi, sem dúvida, para a beleza das portas minuciosamente trabalhadas em metal ou madeira, umas pequenas obras de arte escondidas por entre as lojas  da tralha comercial e, quando abertas, nos ofereceram uma visão deslumbrante da arquitectura dos pátios interiores, ricos de azulejos e arabescos de gesso que decoram colunas e pórticos numa estética comum a toda a arte islâmica.

De vista regalada sim, era caso para isso, mas os nossos sentidos também estavam bem  despertos pelos odores que pairavam no ar, tão diferentes do que estávamos habituados.  De comida, de fruta fresca, dos orégãos e de menta que de tão intensos e agradáveis nos apeteceu trazer para casa. E ainda tínhamos o cheiro a metal trabalhado pelos artesãos, o mofo do casario antigo, o monóxido de carbono das benditas motos, o suor de gente que trabalha em climas muito quentes, o chão molhado para acalmar o pó, o cheiro a perfume de turistas acabadinhos de chegar. Por fim, entrámos na Praça Jemaa el-Fna.  Julgávamos já ter visto de tudo à venda mas estávamos enganados. Ali mesmo à nossa frente, uma banca com dentes soltos e outros alinhados em próteses de vários tamanhos, cobertos de pó, à espera de clientes. Sorrimos. Estávamos em Marraquexe. A praça é o centro de tudo. Há música tradicional,  dança,  faquires, músicos, encantadores de serpentes e muito mais, mas também se vendem comida e bebidas, vestuário. É à  noite que a Praça Jemaa el-Fna fica ao rubro e por isso as famílias marroquinas vestem a sua melhor roupa, passeiam e fazem as suas compras.

A cidade rosa oferece-nos algumas preciosidades patrimoniais entre elas os Tombeaux  Saadiens, a mesquita Koutoubia ou o Palácio da Bahia, onde grupos de turistas japoneses de máquina fotográfica em punho, pareciam querer fazer concorrência aos marroquinos e não nos darem um minuto de sossego. Na realidade não fomos a Marraquexe para ficar sossegados e o que nos apaixonou nesta cidade foi, sem dúvida, a sua imensa actividade na rua. Se nas ruelas antigas e estreitas era preciso esgueirarmo-nos por entre o vaivém de motos e transeuntes, fora do Souk, no automóvel alugado, foi exactamente a mesma coisa. Carros, motos,  carroças puxadas por burros,  todos se cruzavam desordenadamente à nossa volta, numa dança alucinante na qual os peões também deram um ar de sua graça. Não foram os encantadores  de serpentes da Praça Jemaa el-Fna que produziram sobre nós o encantamento inesperado. Foi esta cidade irrequieta onde a vida acontece numa exposição diária espontânea e simultaneamente calculada para o turista ver.


sexta-feira, 26 de maio de 2017

 No Deserto Também Há Uma Biblioteca



Percorríamos a rota dos Kasbahs para admirar essa fantástica arquitectura de terra que se funde com o próprio chão numa cor de argila, por vezes bastante intensa. Os povos berberes souberam dar-lhes a elegância perfeita para uma terra árida em que a única cor discordante é o verde do oásis. Entretanto tínhamos ouvido falar de uma biblioteca mesmo às portas do deserto. Movida pela curiosidade profissional e de viajante e com o consenso dos meus companheiros de viagem, rumámos até Tamegroute. Esta vila, outrora de grande importância no mapa marroquino, fica bem nos confins de Marrocos pois a estrada terminará dali a umas dezenas de quilómetros, quase na fronteira com a Argélia com a qual nem estabelece ligação. Um pouco para trás fica o fértil Vale do Drâa. Para trás fica, também, o seu esplendor de vila com destaque na antiga rota do Tombuctu como grande centro religioso de Marrocos. À nossa chegada ao complexo religioso, a Zauia Naciria, salta-nos ao caminho um guia espontâneo daqueles que os há por todos os cantos do país que depois dos serviços prestados, tentam regatear como melhor sabem o que à partida era gratuito. H Kim, o nosso guia, vai-nos conduzindo pelo complexo religioso, um pouco degradado, em cujos claustros interiores se arrastam pelo chão dia e noite, fazendo do sítio a sua casa, doentes incuráveis à espera de um milagre. H Kim fala-nos do fundador da Zauia Naciria, um teólogo sufista e médico que se interessou pelas doenças mentais. Agora percebemos a esperança no milagre.



A mesquita e o túmulo do fundador estão vedados aos turistas que por ali vão pingando. Apenas aparecem em pequenos grupos ou solitários que se dirigem para as dunas  de Tinfou. Finalmente H Kim abre a porta da biblioteca. Deparamo-nos com um ancião de túnica imaculadamente branca, bastante decrépito, sentado numa cadeira de rodas. É o bibliotecário que desde sempre ali trabalhou.  Podemos admirar, dentro das enormes vitrines embora a sala seja pequena para a noção que temos de uma biblioteca, maravilhosos manuscritos iluminados do séc. XVII em perfeito estado de conservação. Espanta-nos a falta de protecção e de condições ambientais. É o vento seco do deserto que os conserva, explica-nos H Kim. Com muita pena minha não podemos tirar fotos, é compreensível. Actualmente só os alunos da pequena madraça ali mesmo ao lado frequentam a biblioteca. Nos tempos áureos da Zauia Naciria, até do Mali e do Níger vinham alunos para aprender os ensinamentos do Corão. De facto entre a população desta aldeia é visível a presença de bastantes habitantes negros ao contrário de outras zonas de Marrocos. A visita à biblioteca terminou, seguimos com o nosso guia para uma outra ao centro de olaria, mas a biblioteca com belos tesouros, num lugar tão improvável, tão árido, sem ruas pavimentadas, onde o pó tudo invade, não me saiu da memória.




sexta-feira, 24 de março de 2017

Por terras do Tio Sam - Natureza em Grande

Viajar aos Estados Unidos não era uma das minhas prioridades talvez por não gostar muito do estilo de vida que me chegava mais ou menos estereotipado, talvez pela minha relutância em relação à supremacia duma potência com papel sempre muito activo nos destinos do mundo. País de grandes contradições mas que, no entanto, sempre conseguiu criar inovação nos vários domínios interdisciplinares que vieram a contribuir, largamente, para o desenvolvimento humano. É neste  país que se encontra uma das maravilhas da natureza que sempre despertou a minha curiosidade: o Grand Canyon. Este grandioso desfiladeiro, que emoldura o Rio Colorado com margens rochosas, íngremes, esculpidas ao sabor de ventos e chuvas durante milénios, confirma-nos a ideia de que tudo, nos Estados Unidos, é em grande. Aqui as dimensões ultrapassam largamente as do horizonte que o meu olhar estava habituado a alcançar. Até entre os turistas internos que por ali andavam, se destacavam os XXXL, não só pela obesidade extrema, mas porque se viam com muita frequência. Só pode ser consequência da comida, enjoativa, sempre igual, batatas fritas e hambúrgueres com molho de tomate, maionese e pouco mais, em qualquer lugar que estava mais à mão do viajante turista, mas que o americano come com todo o prazer.  A comida e o cheiro gorduroso ao redor de muitos restaurantes, parecia perseguir-me e foi o único aspecto negativo desta viagem.
Quem viaja normalmente tem um plano que se prende, sobretudo, com o número de dias disponíveis a rentabilizar da melhor maneira possível. O meu incluía um percurso pelo Arizona e Califórnia, distribuído por quinze dias, pelo que escolher a melhor hora para visitar o Grand Canyon que é, sem dúvida, ao entardecer num dia de sol, não foi possível. A opção de fazer um voo de helicóptero que os há disponíveis por várias empresas, foi bastante compensadora. Permitiu-nos observar a baixa altitude a monumentalidade duma extensão de terras rasgadas compulsivamente pelo rio que em conluio com as forças da natureza criaram este espectáculo agora ao alcance dos meus olhos. Sobrevoando, tornou-se quase um jogo de esconde-esconde, ao som de um vira do Minho, conseguir avistar o Colorado que lá ia serpenteando as falésias conforme podia. O vira do Minho foi gentileza do piloto por sermos portugueses. Valeu a intenção porque a música está fora das minhas preferências musicais. Pelo contrário, o holandês que fazia o voo connosco, pareceu-me bastante agradado. Tocou-me nas costas para eu olhar e ergueu os braços ao jeito minhoto de quem dança. Já em terra, explicou entusiasticamente que tinha estado no norte de  Portugal no ano anterior.
Ao longo do Grand Canyon existe a possibilidade de apanhar um shuttle bus com paragens em vários pontos estratégicos onde se pode sair e voltar a entrar a qualquer hora, uma vez que este transporte está incluído no preço de ingresso no parque. Assim sendo, dispusemos do tempo que nos interessou para ficar ali, fascinados, olhando do cimo de penhascos de várias tonalidades ocre que descem até ao rio, ora completamente íngremes, ora em socalcos caprichosamente esculpidos, configurando uma paisagem indescritível e invulgar. Este grande desfiladeiro de mais de quatrocentos quilómetros de comprimento por trinta de largura aproximadamente, oferece-nos várias formas de ser explorado e múltiplos pontos de grande beleza, mas visitá-los todos carecia de muito mais tempo na região. A poucos quilómetros do Parque e da cidade de Page, no Arizona,  o Horseshoe Bend, foi uma das paisagens que levou ao rubro o meu deslumbramento. Aqui o rio Colorado cavou os penhascos numa curiosa forma de ferradura. Alguns turistas quiseram ver, da berma do precipício, o rio que lá bem no fundo corria, mas os menos corajosos, nos quais eu me incluí, só rastejando numa pose caricata, conseguiram tirar a tão desejada foto.
O Cameron Trading Post foi o alojamento feito à medida para deleite de quem já andava maravilhado com toda a região do Grand Canyon. Hotel romântico, nas margens do Little Colorado River, afluente do Colorado, ocupa uma antiga estalagem e posto de trocas comerciais com os índios Navajo, entretanto recuperada. Todo o staff é composto pelos descendentes deste povo, solícitos, eficientes, mas de semblantes fechados.  Alertaram-nos para o tradicional e delicioso pão quente servido com mel, uma espécie de panqueca insuflada, simplesmente divinal que degustámos ao pequeno almoço. A decoração interior é de inspiração Navajo, claro, onde lindíssimos tapetes de parede e bela cerâmica aconchegam o ambiente e o transformam num espaço bastante acolhedor. Assim chegou a hora de partir ainda com muita estrada pela frente.



quinta-feira, 23 de março de 2017

Curiosidades – Turquia 3


Mesmo no centro de Istambul, a Cisterna da Basílica, um conjunto de galerias e túneis construídos para armazenar água no período Bizantino, revelou-nos um labirinto de colunas que emergem da escura água acumulada, salpicada somente pelo reflexo luminoso de pequenas luzes que realçavam as colunas. Podíamos deslocar-nos por entre elas através de passadiços, num ambiente húmido e sombrio, ouvindo sempre o gotejar de água, algures, que a música ambiente, muito bem seleccionada, não abafava e ajudava, até, a criar em certo ambiente misterioso. Apreciando esta surpreendente construção de colunas desiguais,   trazidas dos templos do império para ali sustentarem abóbadas de tijolo ao estilo romano, eis que nos deparámos com duas que sobressaíam entre as demais. Na sua base estavam esculpidas as cabeças da pérfida górgona Medusa com sua cabeleira de serpentes, mas esculpidas de cabeça para baixo, vá-se lá saber porquê. Com todo este ambiente subterrâneo, poderíamos acreditar estar no verdadeiro antro do terrível monstro. Teria havido uma intenção simbólica ao serem colocadas ali estas duas cabeças? 
A Turquia surpreende-nos por tudo e por nada!


Curiosidades -Turquia 2

Tínhamos ido até Pamukkale visitar as famosas bacias calcárias de água termal que pela encosta se derramam em enormes cascatas brancas, num espectáculo inolvidável. Foi aqui neste lugar que nos separámos do grupo para regressarmos, os três, a Istambul e aí explorarmos a cidade por nossa conta o que, confesso, é sempre mais agradável. Para nos levar ao aeroporto de Pamukkale, apareceu-nos um turco engravatado pronto a abrir-nos a porta de um veículo preto, lustroso de tão novo, de estofos em pele branca e muitas aplicações de cromados dourados. Um carro demasiado grande para três pessoas. Fez-me lembrar um carro funerário. Mas esta ideia começou a fervilhar no meu cérebro à medida que avançávamos  pela estrada, numa correria alucinada, com o nosso turco a conduzir só com a mão direita pois a esquerda  pendurava-se pela janela, ziguezagueando um pouco no centro da via e cortando curvas sempre que podia. Conseguimos chegar inteiros ao aeroporto e respirar de alívio.
A Turquia surpreende-nos por tudo e por nada!


Curiosidades-Turquia

Num dos dias de viagem, em direcção a Çanakkale, a cidade a quem Hollywood ofereceu o grande cavalo de madeira usado no filme Tróia e que ali mesmo, no centro da cidade, nos recorda que estamos bem perto do lugar onde gregos e troianos se digladiaram na lendária Guerra de Tróia cantada por Homero, fizemos uma paragem técnica num lugar "pipitoresco". Na berma alargada da estrada havia um quiosque com bebidas para matar a sede se fosse esse o caso e dois pequenos contentores transformados em WC. Claro que a fila das senhoras se alongou como sempre e os dez minutos disponíveis estavam a revelar-se insuficientes. As primeiras mulheres que saíram do contentor vinham com um sorriso enigmático e comentaram: - Não vão acreditar! A cena repetia-se a cada saída do WC. Comecei a ficar intrigada, mas com a pressa ninguém adiantava alguma informação. Chegou a minha vez e entrei! Realmente não podia acreditar no insólito, na inusitada decoração. De todas as paredes e do tecto, jorravam enormes ramos de flores de plástico de fraca qualidade, das mais variadas cores e feitios numa floresta inacreditavelmente compacta. A sanita era a única nota discordante.

A Turquia  surpreende-nos por tudo e por nada.