segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

  Lisboa de Outros Tempos
     
Alfama
Lisboa está  mais bonita. É certo que tem o sol e o Tejo como padrinhos que sempre a ampararam mesmo nos tempos de desolação do seu passado recente quando a incúria e a má gestão imobiliária lhe causaram feridas profundas, lhe amareleceram a alma. Mesmo quando as colinas de casario envelhecido, bolorento, tantas vezes enfeitado por grafitos coloridos que não  eram senão uns rabiscos desenvergonhados numa gargalha ao seu abandono, ao seu estado devoluto. Ou quando os lisboetas desertaram do seu centro histórico e o entregaram ao vazio dos fins de semana animado apenas pela comunidade africana na esquina do D. Maria. Ou até quando  a megalomania do Centro Comercial atirou o comércio da Baixa Lisboeta para um estado de flacidez e a ida a esta zona da cidade caiu para o ocasional. 
Lisboa agora está mais bonita. São tempos de mudança. Está mais colorida e renovada. Rejuvenesceu e  aconchega o nosso olhar em qualquer um dos seus miradouros. Presenteia-nos com as suas ruelas estreitas pintadas de fresco como donzelas em dias de baile de Santo António. Sei que ainda há muito por fazer e  nem me quero lembrar que há especulação imobiliária e que os turistas foram trazidos ou não pelas multinacionais deste ramo. Nem quero lembrar que foram os de fora que nos escolheram em vez de nós planearmos de forma equilibrada a sua vinda.   Não quero lembrar que floresceu um comércio desinteressante virado apenas para o turista. Não me incomoda que os velhos e pachorrentos amarelos da Carris tenham a concorrência dos tuk tuk.  Lisboa está mais bonita e eu quero desfrutá-la antes que seja tarde demais.

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