Por terras do Tio Sam -
Natureza em Grande
Viajar aos Estados Unidos não
era uma das minhas prioridades talvez por não gostar muito do estilo de vida
que me chegava mais ou menos estereotipado, talvez pela minha relutância em
relação à supremacia duma potência com papel sempre muito activo nos destinos
do mundo. País de grandes contradições mas que, no entanto, sempre conseguiu
criar inovação nos vários domínios interdisciplinares que vieram a contribuir,
largamente, para o desenvolvimento humano. É neste país que se encontra uma das maravilhas da
natureza que sempre despertou a minha curiosidade: o Grand Canyon. Este grandioso
desfiladeiro, que emoldura o Rio Colorado com margens rochosas, íngremes,
esculpidas ao sabor de ventos e chuvas durante milénios, confirma-nos a ideia
de que tudo, nos Estados Unidos, é em grande. Aqui as dimensões ultrapassam
largamente as do horizonte que o meu olhar estava habituado a alcançar. Até
entre os turistas internos que por ali andavam, se destacavam os XXXL, não só
pela obesidade extrema, mas porque se viam com muita frequência. Só pode ser
consequência da comida, enjoativa, sempre igual, batatas fritas e hambúrgueres
com molho de tomate, maionese e pouco mais, em qualquer lugar que estava mais à
mão do viajante turista, mas que o americano come com todo o prazer. A comida e o cheiro gorduroso ao redor de
muitos restaurantes, parecia perseguir-me e foi o único aspecto negativo desta
viagem.
Quem viaja normalmente tem um
plano que se prende, sobretudo, com o número de dias disponíveis a rentabilizar
da melhor maneira possível. O meu incluía um percurso pelo Arizona e
Califórnia, distribuído por quinze dias, pelo que escolher a melhor hora para
visitar o Grand Canyon que é, sem dúvida, ao entardecer num dia de sol, não foi
possível. A opção de fazer um voo de helicóptero que os há disponíveis por
várias empresas, foi bastante compensadora. Permitiu-nos observar a baixa
altitude a monumentalidade duma extensão de terras rasgadas compulsivamente
pelo rio que em conluio com as forças da natureza criaram este espectáculo agora
ao alcance dos meus olhos. Sobrevoando, tornou-se quase um jogo de esconde-esconde,
ao som de um vira do Minho, conseguir avistar o Colorado que lá ia serpenteando
as falésias conforme podia. O vira do Minho foi gentileza do piloto por sermos
portugueses. Valeu a intenção porque a música está fora das minhas preferências
musicais. Pelo contrário, o holandês que fazia o voo connosco, pareceu-me
bastante agradado. Tocou-me nas costas para eu olhar e ergueu os braços ao
jeito minhoto de quem dança. Já em terra, explicou entusiasticamente que tinha
estado no norte de Portugal no ano
anterior.
Ao longo do Grand Canyon
existe a possibilidade de apanhar um shuttle bus com
paragens em vários pontos estratégicos onde se pode sair e voltar a entrar a
qualquer hora, uma vez que este transporte está incluído no preço de ingresso
no parque. Assim sendo, dispusemos do tempo que nos interessou para ficar ali,
fascinados, olhando do cimo de penhascos de várias tonalidades ocre que descem
até ao rio, ora completamente íngremes, ora em socalcos caprichosamente
esculpidos, configurando uma paisagem indescritível e invulgar. Este grande
desfiladeiro de mais de quatrocentos quilómetros de comprimento por trinta de
largura aproximadamente, oferece-nos várias formas de ser explorado e múltiplos
pontos de grande beleza, mas visitá-los todos carecia de muito mais tempo na
região. A poucos quilómetros do Parque e da cidade de Page, no Arizona, o Horseshoe Bend, foi uma das paisagens que levou ao rubro o meu deslumbramento. Aqui o rio
Colorado cavou os penhascos numa curiosa forma de ferradura. Alguns turistas
quiseram ver, da berma do precipício, o rio que lá bem no fundo corria, mas os
menos corajosos, nos quais eu me incluí, só rastejando numa pose caricata,
conseguiram tirar a tão desejada foto.
O Cameron Trading Post foi o
alojamento feito à medida para deleite de quem já andava maravilhado com toda a
região do Grand Canyon. Hotel romântico, nas margens do Little Colorado River,
afluente do Colorado, ocupa uma antiga estalagem e posto de trocas comerciais
com os índios Navajo, entretanto recuperada. Todo o staff é
composto pelos descendentes deste povo, solícitos, eficientes, mas de
semblantes fechados. Alertaram-nos para
o tradicional e delicioso pão quente servido com mel, uma espécie de panqueca
insuflada, simplesmente divinal que degustámos ao pequeno almoço. A decoração
interior é de inspiração Navajo, claro, onde lindíssimos tapetes de parede e
bela cerâmica aconchegam o ambiente e o transformam num espaço bastante
acolhedor. Assim chegou a hora de partir ainda com muita estrada pela frente.
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