Revisitar a Costa Vicentina
Repetir um percurso espectacular pela Costa Vicentina,
realizado há mais ou menos vinte e cinco anos, veio despertar as minhas
memórias de uma aventura por caminhos de
cabra e trilhos que serpenteavam a beira das falésias, em busca de praias
selvagens. Descer a costa devagar, pernoitar aqui e acolá e encontrar praias
completamente intactas como a da Bordeira, da Carrapateira e do Amado entre
outras. Não se via por ali vivalma
além de nós os dois e das espécies
animais próprias da falésia com destaque, claro, para as gaivotas que nos
sobrevoavam em voos rasantes. Viemos a encontrar apenas um ou outro guardador de
cabras e um alemão, um solitário andarilho. Da estrada principal largávamos
por caminhos de terra batida até nos
aproximarmos o mais possível das falésias e beneficiar da deslumbrante paisagem
até hoje recordada. O nosso Fiat Uno era uma autêntica carroça de
luxo.
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Cabo Sardão |
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De Monte Clérigo a Arrifana |
Desta vez, fomos
encontrar estradas alcatroadas, arcaicas, mas mesmo assim melhor caminho
que o que tínhamos feito na época. Se há
estradas, há mais gente. Se
há mais gente, há mais construção, logo já não existem praias
selvagens. Contudo, as moradias e aldeamentos ainda
não sufocam a paisagem, naquelas que eram as praias e falésias mais bonitas que ate à data tínhamos
visitado. O Carvalhal, Amoreira e Monte Clérigo apresentam aglomerados
residenciais de veraneio, tal como a praia do Amado que até tem uma escola de
surf e bastantes surfistas. Voltar a caminhar no topo da falésia, agora por
curtíssimos trilhos, no meu passo de caracol por conta das vertigens e depois
parar para apreciar a beleza do mar a desfazer-se lá em baixo nas rochas, é
simplesmente arrebatador. E sentir o cheiro da marcela a sobressair por entre o das outras plantas de mato rasteiro ainda no esplendor da primavera
recentemente terminada. E as gotículas
da maresia vicentina trazidas pelo vento fresco que sopra do Atlântico, tão contrastantes com os 40 graus previstos
para o interior alentejano. Que melhor podia eu desejar nestes dias escaldantes
de mini férias? Actualmente já não se podem fazer trilhos muito longos no topo
das falésias e ainda bem, não só por questões de segurança mas também para preservação da flora
rasteira. Foi com satisfação que verifiquei que são frequentes os passadiços e
as escadas de madeira que nos encaminham para miradouros estrategicamente
colocados ao longo de toda a Costa Vicentina. Sei que irei voltar novamente.
Manuela Santos
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